O Chá da tarde
Inspirado na obra Interior do Estúdio de Alexandre Denis Abel de Pujol (1787-1861)
Quando a primavera chegava, todas as mulheres, solteiras ou casadas, já tinham ideia do que seria aquela tarde. Os chás artísticos do senhor Robin eram famosos E sempre muito disputados.
As senhoras, das famílias mais tradicionais da cidade, se enfileiravam na tentativa de conquistar uma vaga, enquanto os mais ricos almejavam, todo ano, comprar um lugar tão disputado para que as suas filhas pudessem ter uma primavera educacional, com um homem de reputação tão ilibada.
Os momentos de conhaque e charutos que antecediam a chegada da estação eram rodeados por um único assunto. A escola de arte para mulheres do senhor Robin.
Por ali circulavam histórias, que eram passadas de boca em boca, de cidade em cidade, de estação em estação, sobre como o homem era um excelente professor ou mesmo sobre como aquelas mulheres passavam a ser cortejadas por todos os homens ricos após participarem dessas aulas.
Na verdade, para todos aqueles homens que almejavam uma vaga, as aulas eram um mistério, uma vez que um dos critérios para se conseguir a participação era o segredo absoluto sobre as tardes de Chá, e só as mulheres participariam, pois os homens deveriam se manter focados em negócios.
Sabendo de sua fama, e de todas as histórias que chegavam na cidade antes da primavera começar, todos providenciavam um montante maior que o outro para convencer o senhor Robin a aceitar a filha mais nova, a enteada de um novo casamento, a esposa que andava triste, e até mesmo as amantes.
Muitas vezes as discussões terminavam em brigas, que terminavam em grandes debates na Câmara dos Comuns ou no Parlamento. Nada terminava apenas na roda de conhaque, a especulação era tão grande que foi criada a bolsa da primavera, onde as vagas conquistados no ano anterior eram praticamente leiloadas, negociadas por valores nunca imaginados por aquela sociedade. Empresas eram trocadas por vagas, fazendas ou até fábricas garantir uma participação daquelas mulheres na tão famosa escola.
Mas sobre o que era ensinado, ninguém sabia responder. Os homens, que se diziam grandes homens de negócios, usavam uma desculpa a cada vez que eram indagados sobre esse tema.
_ Coisas de mulheres. Diziam alguns deles.
_ Porque quer saber? Está pensando em colocar um vestido para participar? Atacava logo o outro que já tinha garantido a vaga das duas amantes.
_ Se você não sabe, então essa vaga vale mais. Tentava iludir outro para conseguir maior lucro.
A grande verdade é que as únicas pessoas que poderiam contar o que se passava naquelas aulas de primavera eram as participantes, o professor, e o único pintor que tinha autorização para fotografar alguns momentos de aulas tão importantes.
Uma fotografia do ano anterior ainda era motivo das conversas nas grandes festas, as senhoras e o senhores que consegue umas vagas faziam questão de exibir a imagem na sala de recepção e contar histórias e mais histórias, sobre os vestidos, as músicas ao piano, os aconselhamentos, os e tudo que poderiam ter vivido daqueles dias, mas nenhuma informação exata.
A única coisa exata eram os olhares e risos que as mulheres trocavam enquanto observavam aquela foto, abanando os seus rostos enrubescidos a cada comentário que só elas ouviam.
E assim passavam o verão, outono e inverno, sonhando com a nova primavera.
25/04/2023
Paulinho Basalces